quinta-feira, 18 de agosto de 2011
HOMOAFETIVIDADE: GAYS NA LITERATURA 2
A FABRICAÇÃO IMAGINÁRIA DO HOMOSSEXUAL MODERNO TEVE SUA MATRIZ NO EXOTISMO. A MARCA DO EXÓTICO E DO EXCÊNTRICO FOI COLADA À PERSONAGEM HOMOSSEXUAL E AO FAZÊ-LO, CUMPRIA TRÊS IMPORTANTES TAREFAS IDEOLÓGICAS.
EM PRIMEIRO LUGAR, TAREFA MAIS GROSSEIRA, AFIRMAVA A SUPERIORIDADE DO BURGUÊS BRANCO, CIVILIZADO, METROPOLITANO E COLONIZADOR, FACE AO PRIMITIVO, COLONIZADO OU AOS REPRESENTANTES DE CLASSES QUE, NO SEIO DA METRÓPOLE,, NÃO DISPUNHAM DE PODER SOCIAL. COMO EXEMPLO DESSAS RELAÇÕES TEMOS ANDRÉ GIDE. QUANDO, EM SEU 'JOURNAL'(1939), EM 'SI LE GRAIN NE MEURT /SE O GRÃO NÃO MORRE'(1921) OU NO 'L'IMMORALISTE / O IMORALISTA'(1902), GIDE SITUA SUAS RELAÇÕES HOMOERÓTICAS EM SUSA OU BISKHRA, REALIZA O QUE CRITICAVA EM PROUST. SE NELE, O EXÓTICO ERA O SUBMISSO E O ATRASADO, EM PROUST ERA O ARCAICO, O PANO DE FUNDO PÁLIDO, ONDE DESFILAVAM A VITALIDADE, O PROGRESSO E O EXPANSIONISMO DO IMPERIALISMO BURGUÊS.
AS RELAÇÕES HOMOERÓTICAS DE MAURICE COM SEU GUARDA-CAÇAS ALEX SCUDDER, EM FORSTER; OU DE MICHEL COM SEUS EMPREGADOS, EM 'O IMORALISTA', MOSTRAM QUE O HOMOSSEXUAL É UM TRÂNSFUGA DE CLASSE. NÃO PODENDO EXERCITAR SUA PERVERSÃO ENTRE PARES, RECORRE À DISSEMETRIA SOCIAL E FAZ-SE ACEITAR POR AQUELES QUE NÃO POSSUEM A MORAL DO VERDADEIRO CIDADÃO. NUMA ESPÉCIE DE SIMULACRO DA ÉTICA ANTIGA, PERMITE-SE AO SENHOR TODA LIBERDADE DIANTE DO ESCRAVO, LIBERDADE ESSA IMPENSÁVEL ENTRE IGUAIS.
EM SEGUNDO LUGAR, O HOMOEROTISMO EXÓTICO DAVA MOSTRAS DO LIBERALISMO QUE A SOCIEDADE BURGUESA, NO AUGE DE SEU PODER, PERMITIA-SE OSTENTAR. DESDE QUE CONFINADO, O HOMOSSEXUAL PODIA MANIFESTAR-SE SEM RISCOS. NAS ESCOLAS E NOS QUARTÉIS, ONDE A FIBRA NACIONAL E DE CLASSE ESTAVA SENDO TEMPERADA, ELE DEVIA SER PERSEGUIDO E EXPULSO. MAS NOS SALÕES MUNDANOS, EM MEIO A QUADROS, CONCERTOS E SARAUS LITERÁRIOS, ELE PODIA CIRCULAR. GIDE E PROUST MOSTRARAM COMO A IDEOLOGIA DO EXOTISMO IMPREGNAVA A CONSCIÊNCIA QUE ELES TINHAM DA QUESTÃO. PORÉM, FOI SOBRETUDO COM OSCAR WILDE QUE A FIGURA DO DANDISMO HOMOSSEXUAL ALCANÇOU SEU ZÊNITE. WILDE CULTIVAVA A EXCENTRICIDADE, O HISTRIONISMO E A EXIBIÇÃO PÚBLICA DE SEUS DOTES MUNDANOS E, CONSCIENTEMENTE, PROCURAVA ASSOCIAR ESSE ESTILO DE VIDA À REALIZAÇÃO HOMOERÓTICA. QUANDO, NA PRISÃO, DEU-SE CONTA DA FALÁCIA DO LIBERALISMO VITORIANO, JÁ ERA TARDE DEMAIS...
EM TERCEIRO LUGAR, O EXOTISMO GAY PREENCHIA , FINALMENTE,UMA FUNÇÃO MAIS IMPORTANTE. REPRESENTANDO O HOMOEROTISMO COMO UM CASO-LIMITE DA VIDA SOCIAL E INDIVIDUAL 'NORMAL', DEIXANDO-O EXPRIMIR-SE APENAS NOS CONFINS OU NAS FRANJAS DE SEU NÚCLEO PRODUTIVO, A SOCIEDADE BURGUESA FEZ DO HOMOSSEXUAL UM PARASITA. COERENTE COM A RENOVAÇÃO MÉDICO-PEDAGÓGICA DA FAMÍLIA E DE OUTROS LOCAIS DE PRODUÇÃO DO CIDADÃO BURGUÊS, PROCURAVA-SE REBATER A SEXUALIDADE MASCULINA PARA O INTERIOR DO SEIO FAMILIAR E DO LAR. ACENTUAR OS PERIGOS DA PERVESÃO HOMOSSEXUAL EM ESCOLAS E CASERNAS FAZIA PARTE DO MESMO MOVIMENTO QUE ATACAVA IGUALMENTE AS FIGURAS SOCIAIS DO CELIBATÁRIO, DO LIBERTINO, DO SIFILÍTICO, ETC. O OBJETIVO ERA FAZER DO HOMEM O HOMEM-PAI, CIDADÃO OCUPADO EXCLUSIVAMENTE EM TRABALHAR, CUIDAR DOS FILHOS E FISCALIZAR A MORAL SEXUAL DAS ESPOSAS. NADA DISSO, CLARO, ERA COMPATÍVEL COM A 'IRRESPONSABILIDADE' HOMOERÓTICA QUE PERPASSAVA AS REDES DE CAMARADAGEM, EXCLUSIVAS DE SOCIEDADES MASCULINAS.
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