sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

LIVRO: "EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO", MARCEL PROUST


"'PELO MENOS É UM HOMEM, NÃO É NENHUM DESSES EFEMINADOS COMO SE ENCONTRAM TANTOS HOJE EM DIA, QUE TÊM O AR DE PEQUENOS TRUQUEURS QUE LEVARÃO TALVEZ AMANHÃ AO CADAFALSO AS SUAS INOCENTES VÍTIMAS.'

NESSE MOMENTO PASSOU UM FIACRE QUE IA AO DEUS-DARÁ; UM COCHEIRO JOVEM, QUE DESERTARA DA BOLÉIA, CONDUZIA-O DO FUNDO DO CARRO, EM CUJAS ALMOFADAS SE SENTARA, COM UM AR DE QUEM ESTIVESSE MEIO EMBRIAGADO. O SR. DE CHARLUS DETEVE-O VIVAMENTE. O COCHEIRO PARLAMENTOU UM INSTANTE.
-PARA QUE LADO VAI O SENHOR?
-PARA O SEU. (ISSO ESPANTAVA-ME, POIS O SR. DE CHARLUS JÁ RECUSARA VÁRIOS FIACRES COM AS LANTERNAS DA MESMA COR).
-MAS EU NÃO QUERO SUBIR PARA A BOLÉIA. NÃO LHE IMPORTA QUE EU FIQUE DENTRO DO CARRO?
-ESTÁ BEM, BAIXE APENAS A CAPOTA.
E SALTOU PARA JUNTO DO COCHEIRO, NO FUNDO FIACRE, QUE PARTIU A TROTE LARGO."

TRECHO DE 'O CAMINHO DE GUERMANTES', O TERCEIRO VOLUME DE 'EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO', DE MARCEL PROUST (NA TRADUÇÃO PRIMOROSA DE MÁRIO QUINTANA) NO QUAL O NARRADOR PRESENCIA UMA DAS AVENTURAS DO SR. DE CHARLUS, UM TÍPICO DÂNDI PARISIENSE DOS FINS DO SÉC. XIX. LER PROUST É. AFINAL, UMA EXPERIÊNCIA SEMPRE INTRIGANTE E PRAZEROSA -COM O PERDÃO DO TROCADILHO, A OBRA DE UMA VIDA. UMA ÓTIMA INTRODUÇÃO À ELA É A BIOGRAFIA DO AUTOR ESCRITA PELO EDMUND WHITE. DEMONSTRANDO UMA COMPREENSÃO RARA DESTE HOMEM COMPLEXO, WHITE REVELA O GÊNIO ESTRANHO E RECLUSO QUE FICAVA DEITADO DIAS NA SUA CAMA, NO QUARTO REVESTIDO DE CORTIÇA, REESCREVENDO OBSESSIVAMENTE SUA OBRA-PRIMA. NÃO DÁ PARA DEIXAR DE LER...

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