quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

LIVRO: 'FABÍAN E O CAOS' / PEDRO JUAN GUTIÉRREZ - DESEJOS CASTRADOS

EM SEU NOVO ROMANCE, O ESCRITOR CUBANO PEDRO JUAN GUTIÉRREZ, 66, USA DE SUA CRUEZA HABITUAL PARA NARRAR A EXPERIÊNCIA DEVASTADORA DE SER HOMOSSEXUAL SOB A DITADURA CASTRISTA. CONSIDERADO UM ESCRITOR EXUBERANTE E MACHO QUE FAZ SEU NARRADOR ACREDITAR QUE O SEXO É A ÚNICA RAZÃO PARA VIVER E SEU LEITOR PENSAR QUE SE ENGANOU AO IMAGINAR ALGO MAIS IMPORTANTE, É AUTOR DE OBRAS COMO 'TRILOGIA SUJA DE HAVANA' E 'ANIMAL TROPICAL'.
"QUERO ESCREVER DE UM MODO TÃO NATURAL QUE NEM PARECE LITERATURA", COSTUMA DIZER GUTIÉRREZ. TANTO QUE OS CRÍTICOS O EQUIPARAM À NOMES COMO HENRY MILLER, JEAN GENET E CHARLES BUKOWSKI. SOBRE SEXO, É TAXATIVO: " SEXO NÃO É PARA GENTE ESCRUPULOSA. SEXO É UM INTERCÂMBIO DE LÍQUIDOS, DE FLUIDOS, DE SALIVA, HÁLITO E CHEIROS FORTES, URINA, SÊMEN, MERDA, SUOR, MICRÓBIOS, BACTÉRIAS. OU NÃO É?"
NO NOVO LIVRO, FABÍAN É O EIXO NARRATIVO. É FILHO TEMPORÃO DE UMA PIANISTA AMADORA E DE UM PAI TRABALHADOR E MESQUINHO, IMIGRANTES ESPANHÓIS CHEGADOS À CUBA NOS ANOS 20. ENTRE ELES, CRESCIA ESSA CRIANÇA SOLITÁRIA COM VISÍVEL TALENTO MUSICAL. TANTO QUE, NA ADOLESCÊNCIA VAI FREQUENTAR O CONSERVATÓRIO, JÁ EM PLENO REGIME COMUNISTA. É QUANDO SE SENTE COM UMA PERIGOSA INCLINAÇÃO HOMOERÓTICA.
ESSA TRAGÉDIA ANUNCIADA É TRATADA COM UMA CRUEZA VISCERAL. PARA ISSO CONTRIBUI O PESSIMISMO INSTINTIVO DO AUTOR E SEU AGUÇADO FARO PARA A REALIDADE MIÚDA QUE, AFINAL, FAZ A VIDA, ONDE NADA É GLAMORIZADO.
EM CONTRAPONTO AO DEPRESSIVO, FRÁGIL E MEDROSO FABÍAN, CONSUMINDO-SE NA SOMBRA DE SEU DESEJO REPRIMIDO, TEM-SE JUAN PABLO, COMPANHEIRO DE GERAÇÃO ANÁRQUICO, MACHISTA E VIOLENTO, ALGUÉM CUJOS "INIMIGOS ERAM A FAMÍLIA, O GOVERNO , A RELIGIÃO, NESSA ORDEM."
VÍTIMAS DO REGIME, OS AMIGOS SE REENCONTRAM NUMA FÁBRICA DE CARNE ENLATADA, PARA ONDE SÃO ENVIADOS PARA REEDUCAREM-SE. ESSE ANTRO DE PORCOS, SANGUE, EXCREMENTOS, ASSÉDIO, VIOLÊNCIA E ESTUPIDEZ É A METÁFORA DE UMA EXISTÊNCIA DEVASTADORA, DE DESEJOS CASTRADOS.

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